Marden Menezes

domingo, janeiro 07, 2007

Lugar comum em inovação

As duas palavras/expressões que dão título a este texto são opostas. “Lugar comum”, pela definição do dicionário Houaiss, é “idéia, frase, dito, sem originalidade; banalidade, chavão . O que é do conhecimento de todos; coisa trivial”, o que contrapõe à definição, até popular, de “inovação”, como sendo algo não esperado, original, novo.

Recentemente a Revista Exame publicou uma excelente matéria que define as tendências, segundo ela, para o ano de 2007. Enquanto lia a matéria, muito bem escrita, ficava cada vez mais empolgado até chegar à página 48 da revista. A que define, na seção de líderes que ditarão as tendências em 2007, os inovadores. Os nomes escolhidos foram:

  • Chad Hurley e Steve Chen: criadores do YouTube
  • Steve Jobs: CEO da Apple
  • Sergey Brin e Larry Page: criadores do Google

Entenderam o porquê, então, de eu colocar “lugar comum” no título deste texto? A revista apontou, na minha opinião, os nomes que fizeram a história da inovação tecnológica no ano de 2006 mas que não necessariamente o farão no ano de 2007. Ao meu ver, foi algo como “chover no molhado”, dar um tiro com a certeza de acertar ou, mais simplesmente, um “lugar comum”.
Onde eu quero chegar? A revista Exame é a mais respeitada no país na área de negócios. A equipe, altamente qualificada, poderia repensar a definição de inovadores ou pelo menos escolher alguns nomes melhores para apontar como “os caras”. Tudo bem.. tudo bem... concordo com a escolha de Jobs. Dizer que Steve Jobs será um dos grandes inovadores do ano de 2007, 2008 ou 200X é quase um pleonasmo... :)

Ainda assim discordo plenamente que os criadores do YouTube sejam os inovadores que criarão tendência para 2007. Perceba que eles já fizeram seu papel em 2006. Criaram um sistema destinado apenas a dividir vídeos com seus amigos (como a própria revista diz), mas que virou uma febre. Não conseguiram descobrir como ganhar dinheiro com isso e fizeram a coisa mais esperta que poderiam fazer... venderam pro Google. O pessoal do Google, que fez uma das coisas mais estúpidas que poderia fazer (comprar o YouTube) está agora com a batata quente na mão. Terá que fazer o YouTube dar dinheiro e ainda se livrar das ações judiciais que acontecem (e acontecerão) não só no Brasil, no caso da Cicarelli, mas no mundo todo.
Se eu acredito que o Google conseguirá ganhar dinheiro com o YouTube? Pasmem... acredito sim! Como? Contratos com empresas para comerciais e vídeos exclusivos e exibição antecipada de vídeos, antes de TV ou cinema. Eles já começaram a fazer isto e acredito que dará certo! O problema simplesmente é se livrar de ações judiciais. É necessário à equipe do YouTube/Google uma definição forte de políticas de gerenciamento dos vídeos para evitar que os mesmos violem direitos autorais e causem dores de cabeça (e dores no bolso) no futuro. Como fazer isso sem aumentar assustadoramente os custos de gerenciamento e sem causar um gargalo na publicação dos vídeos? Ainda não sei... quando eu descobrir eu vendo a idéia pra eles, fico rico e vou morar em Pasárgada.

Sim... e os caras do Google? Bom, eu não considero o pessoal do Google criador desta revolução da internet. Considero-os implementadores! Esta visão de serviços e sistemas totalmente baseados em internet vem antes do Google e o que os diferencia dos outros é o fato de terem conseguido implementar isto tudo que era só idealizado. Aliás, comparo muito o Google à Microsoft, que o pessoal diz que não inventa as coisas e sim compra de quem inventou. Inovação mesmo do Google só o sistema de buscas e o uso disto para gerar negócios. Os seus outros produtos foram conseguidos seguindo a visão do “se alguma empresa fez algo legal eu compro a empresa e trabalho em cima do produto”, muito usada pela Microsoft. Assim o fizeram com o Google Earth (criado pela Keyhole, empresa comprada pelo Google em 2004), Picasa (criada pela empresa de mesmo nome e também adquirida pelo Google em 2004), Google Docs (o Writely era uma aplicação escrita em ASP .NET criada pela empresa Upstartle, comprada pelo Google em 2006), ou o próprio Blogger que uso para divulgar este texto, comprado pelo Google em 2003 da Pyra Labs.

Qual minha reclamação então? A escolha destes três personagens como inovadores que criarão tendências em 2007 foi tão óbvia que ficou faltando apenas Bill Gates na lista para termos quatro nomes “hors concours” quando se fala em inovação tecnológica: Gates, Jobs e Brin-Page. Lembrem-se que eu considero que os criadores do YouTube jogaram a batata para o Google, ou seja, já passou o tempo deles... Isto me leva a pensar que o conceito de “inovação” está ligado erroneamente somente à informática e que o título de inovador é vitalício. Não poderíamos dizer que Jack Welch, aposentado CEO da GE não foi um inovador na forma de gerir a empresa ou o próprio Katsuaki Watanabe, diretor presidente da Toyota, não inova ao conseguir crescer enquanto todas as concorrentes caem e, investindo na dobradinha processos-informática, consegue ter uma fábrica que constrói um carro novo a cada 56 segundos? Até o final de 2007 a Toyota vai inaugurar uma fábrica que construirá um carro novo a cada 6 segundos. Isto não é inovação de processos? E o pessoal do Biodiesel no Brasil, não é inovador que determinará tendência no futuro? Pois é, a melhor revista de negócios do Brasil pecou ao pensar em inovação apenas em computação, colocando nomes “repetitivos” e alguns até, no meu ponto de vista, errôneos e esquecendo de inovação em outras áreas de negócios.

Ainda estamos então seguindo a idéia de que computação é inovação. Espero que isso mude... quem pensar que computação é inovação estará um pouco atrás no futuro. O gerenciamento da computação para gerar negócios é que é a inovação da vez. Computação, nos países mais prósperos, já é commodity. Ou não? Qual sua opinião?

6 Comments:

  • Como você falou: Inovação não é algo que você pode esperar lendo as páginas da Exame. O Jobs é previsível: Design, design, design. Google e Microsoft são apenas grandes refactores (i.e., de "refactoring" do mercado), repaginando na versão deles produtos até pegar no tranco.

    E quem são os visionários? Eu gosto de apostar nos palpites do R. X. Cringely. Ele costuma acertar, mas este ano está puto porque só acertou 60% das previsões!
    Já pensou ele como mãe de santo? :)

    By Anonymous Anônimo, at 11:35 AM  

  • Marden,
    Algumas perguntas para você escrever:
    1) Quais são as motivações de uma revista ou jornal fazer jornalismo?
    2) Existe jornalismo tendencioso? E imparcial?
    3) O que acontece quando o jornalista não conhece 100% do dominio do assunto que está escrevendo? O que acontece qdo vc faz sistemas nestas condições?
    4) O que acontece quando o Marden escreve sobre o assunto Microsoft?E quando escreve sobre a Namíbia?

    By Anonymous Anônimo, at 5:10 PM  

  • Fala Marden,

    Muito bom vê-lo blogando novamente! Sendo bem objetivo, 3 impressoes *minhas, pessoais* sobre alguns pontos do seu texto:

    - Você diz acreditar que a maneira com que o YouTube/Google fará dinheiro será com "Contratos com empresas para comerciais e vídeos exclusivos e exibição antecipada de vídeos, antes de TV ou cinema." Acho que isso vai totalmente contra a corrente web 2.0 na qual o YouTube se apóia, em que as mídias são das massas. Você propoe um foco baseado na volta ao modelo tradicional de provedores oficiais de conteúdo, e isso me soa como um castramento da interação com as massas, indo na contra-mão do que tornou o YouTube popular.

    - Calma lá ao desconfiar do pessoal do YouTube em 2007! Imagine as possibilidades de negócio que eles poderão ter agora com uma empresa criativa e implementadora com o Google! Imagine Leonardo da Vinci tendo suas invenções apoiadas/suportadas por uma civilização mais avançada! Esse é o YouTube nas mãos do Google.

    - "O gerenciamento da computação para gerar negócios é que é a inovação da vez." É por aí mesmo. Se é que dizer isso já não é cair no lugar comum! :)

    []s
    -- AFurtado

    By Anonymous Anônimo, at 11:53 PM  

  • Obrigado pelo feedback de todos! Respondendo a André:
    Com o crescimento dos acessos e do upload de vídeos, o YouTube precisa de um backend muito potente de servidores, o que gera custos. Eu diferencio muito fama de sucesso e acredito que economicamente o YouTube não estava tendo sucesso, e sim, fama. O YouTube pode passar pelo mesmo processo que o Skype. Sucesso mundial em relação a fama e inovação, mas que não tem tanto valor quanto se esperava e não fez valer a compra por parte do eBay (ainda) ou o próprio Yahoo!, conhecido por todos, famoso, mas que decresce ano após ano comercialmente. Os pontos que eu citei de contatos com empresas e vídeos exclusivos no YouTube já estão sendo trabalhados pela equipe do Google, não são uma aposta minha não. Não acho que isto possa castrar a interação das massa mas, sim, fazer isto ser economicamente viável.
    Em relação aos criadores do YouTube, acredito mais na força da equipe Google em implementar inovações economicamente viáveis do que no pessoal do YouTube. Estou aprendendo, com o tempo, que experiência conta muito :)
    Gostei muito de você ter dito que ' gerenciamento da computação para gerar negócios é que é a inovação da vez." já pode ser um "lugar comum". O que me dá pena é o que nós, pensadores, achamos ser jargão os implementadores ainda nem chegaram a pensar...

    By Blogger Marden Menezes, at 12:41 AM  

  • E se o You Tube usar a fama para turbinar o sucesso? You Turbe!? :)

    []s
    -- AFurtado

    By Anonymous Anônimo, at 4:35 PM  

  • Marden,

    Concordo contigo sobre a falta de originalidade da revista exame nesta matéria. Engraçado é que foram publicadas tantas matérias sobre inovação na própria exame nos últimos anos. Parece que os autores deste “ranking” não leram as edições passadas.

    Concordo contigo que inovação não está vinculada a tecnologia da informação, muito pelo contrário, grande parte dos trabalhos acadêmicos sobre inovação pesquisam empresas de produção, Honda, Toyota, Samsung, 3M. Inovação também não é restrita a criação de produtos, ela também é muito importante em processos, serviços, etc. Tirar da cartola o produto genial, como fizeram os criadores do youTube, pode até ser chamado de inovação, mas combina mais com sorte e uma empresa precisa muito mais que isto para prosperar.

    Quanto a falta de inovação da Microsoft e do Google eu tenho que discordar. Algum tempo atrás tinha esta mesma opinião, pior que isto, escrevi uma resenha abordando justamente este tema para o meu orientador (que na época era apenas meu professor). Para mim era claro que a Microsoft utilizava a estratégia de ser seguidora.

    Hoje tenho um conceito de inovação totalmente diferente e considero a Microsoft uma empresa altamente inovadora. Mas não vou falar da MS, pois sou funcionário e minha opinião pode ser considerada “viesada”. Mas da Google eu posso falar, afinal é uma concorrente.

    A Google pode não ter inovado comprando o Blogger, mas certamente mudou completamente a cara da web lançando o adsense. Hoje qualquer um pode ser autor de um blog ou web-site e viver disto. Se a web já democratiza a mídia, a Google democratizou a remuneração.

    Já com o adwords ela democratizou o marketing online, agora a Padaria do Zé compra a palavra “padaria” e multiplica seus page views com um investimento baixo. Isto abriu para a Google um mercado monstruoso de anunciantes que simplesmente não existiam. Já pensou nisto? A empresa “inventou”uma receita multimilionária, não “roubou” de outra mídia, nem de um concorrente.

    Estas empresas inovam a cada dia, em processos, em produtos, em serviços oferecidos. Não podemos subestimá-las.

    By Anonymous Anônimo, at 9:58 PM  

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